Matriz de Santana recebe oficialmente neste domingo o título de Basílica Menor
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Santana está comemorando neste domingo, 26 de julho, 238 anos de história, no mesmo dia em que a Igreja celebra o dia de Sant’Anna, padroeira do bairro. Historicamente, as primeiras ocupações da região foram registradas anteriormente, no século 16, porém a definição do ano de 1782 como ponto inicial da formação do bairro aconteceu por motivos religiosos. Nesse ano, o papa Pio VI estabeleceu que Santa Ana, mãe de Maria e avô de Jesus, seria a padroeira desta região. Como o dia 26 de julho já era considerado Dia de Santa Ana por determinação do papa Gregório XV desde 1621, essa data tornou-se também referência da história do bairro.
Neste ano, outro importante acontecimento religioso marcará as comemorações do aniversário do bairro. No último dia 5, o Arcebispo Metropolitano de São Paulo Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer anunciou que a igreja Matriz de Santana foi elevada pela Santa Sé à Basílica Menor. O título, que é concedido diretamente pelo Papa, representa um vínculo particular com a Igreja de Roma e com o Santo Padre, obtendo uma relevância maior para a vida litúrgica e pastoral da diocese. A escolha como basílica menor tem como critérios a intensa veneração dos cristãos, transcendência histórica e beleza de sua arquitetura e decoração.
A cerimônia de entrega do título de Basílica Menor acontece durante as celebrações do Dia da Padroeira neste domingo (26), em missa presidida pelo Cardeal Arcebispo Dom Odilo Pedro Scherer às 15 horas. Nesse mesmo dia, haverá missas na basílica pelo Dia da Padroeira às 7, 9, 11 e 18 horas com a presença de fiéis, segundo as recomendações de segurança para evitar a proliferação da covid-19. Localizada na Rua Voluntários da Pátria, 2.060, a Paróquia de Santana surgiu a partir de um desmembramento da Paróquia de Santa Efigênia, em decreto assinado em 12 de julho de 1895 por Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcante. Dessa forma, a paróquia de Santana acaba de comemorar 125 anos de existência, agora como basílica menor.
Esse é apenas um dos fatos históricos que permeiam a história do desenvolvimento de Santana. Ocupando uma área de 12,60 km2, o bairro tem uma população estimada em 118.797 habitantes de acordo com dados da Prefeitura de São Paulo. Bastante valorizado pelo mercado imobiliário, Santana tem muitos pontos históricos como as instalações do Centro de Preparação dos Oficiais da Reserva - CPOR, na Rua Alfredo Pujol, onde funcionou a sede da antiga Fazenda Santana. Tendo como limite as margens do Rio Tietê, separando a região das áreas centrais da cidade, o bairro teve seu desenvolvimento e modernização a partir dos sistemas de transportes e acesso.
Embora a data em que se comemora o marco inicial da história de Santana corresponda ao ano de 1782, registros mostram que, as primeiras ocupações da região são de anos anteriores. Registros históricos apontam que um português chamado Pedro Dias, casado com Maria da Grã, filha do Cacique Tibiriçá, teria sido um dos primeiros a se estabelecer na região, em 1558. Pedro Dias teria formado uma fazenda na região, mas acabou optando por ficar na região de Santo André.
Avenida Cruzeiro do Sul é uma das principais vias de acesso ao bairro
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O início do povoamento da região teria começado em 1673 com a chegada de um grupo de jesuítas. Esse fato deve-se à doação de uma “sesmaria” (antigo termo agrário), feito pelos herdeiros de Inês Monteiro (conhecida como Matrona), descendente da tradicional família Camargo de São Paulo, para o Colégio da Companhia de Jesus.
Os jesuítas instalaram-se na região, formando um núcleo de catequese e construíram uma capela de taipa, dedicada a Santa Ana. Surgia assim a Fazenda Sant’Ana, uma das propriedades mais importantes da Vila de São Paulo, que fornecia leite, mandioca, legumes e frutas para várias regiões da cidade.
Delimitada pelo Rio Tietê, a região permaneceu por muito tempo isolada da cidade. Somente após o final do século 17, esse isolamento começou a ser superado, a partir da construção de um grande aterro de aproximadamente 3 km, que fazia a ligação com o Convento da Luz. Por muito tempo, essa foi a única via que permitia acesso à cidade, apesar de sofrer frequentes inundações durante o verão.
A primeira grande transformação local veio em 1700, com a construção da Ponte Grande, ainda precária e com estrutura de madeira, não sendo suficiente para promover uma integração com a cidade. Em 1773, uma grande inundação danificou a ponte, o que fez com que o transporte fosse feito em canoas pelo Rio Tietê. Dessa forma, toda a área que hoje corresponde ao bairro de Santana, permaneceu ocupada apenas com sítios e chácaras. Em 1795, o bairro possuía apenas 136 casas e, a população não chegava a mil habitantes.
Em 1759, a ocupação local feita por missionários jesuítas sofreu um grande golpe, quando Marquês de Pombal assinou um decreto, confiscando todos os seus bens. A partir disso, suas terras passaram a pertencer ao governo da Capitania de São Paulo e, assim permaneceu até 1889, último ano do Império.
Consta que no período de 1803 e 1808, chegou a ser praticada a cobrança de pedágio na antiga Ponte Grande. Nessa época, já existiam pontos tradicionais do bairro, como o Colégio Santana e a Capela Santa Cruz, transformada em Matriz provisória. Com a inauguração da Igreja Matriz de Santana, a área central do bairro passou a ser a baixada da Rua Voluntários da Pátria, onde o bairro alcançou grande desenvolvimento.
Em 1821, boa parte de Santana passou a pertencer à família de José Bonifácio de Andrada e Silva. Outro fato histórico relevante ocorreu na antiga sede da Fazenda (casa onde hoje está o Centro de Preparação de Oficiais - CPOR), onde o Patriarca da Independência teria escrito a carta de representação ao Governo Provincial, que contribuiu para o famoso Fico do Príncipe Regente D. Pedro I.
Transportes e vias de acesso foram fundamentais para o desenvolvimento local
Tendo o Rio Tietê como barreira natural, a região de Santana encontrou o caminho do seu desenvolvimento, a partir da implementação dos meios de transportes. Em 1893 a chegada do Tramway da Cantareira marca uma importante fase do desenvolvimento local. Conhecido como “Trenzinho da Cantareira”, fazia o trajeto da Serra da Cantareira até o Pari e, até os dias de hoje é tido como uma das principais referências históricas de Santana. Sua função inicial era o transporte de carregamentos para os reservatórios de água, mas devido à dificuldade de transporte, muitas pessoas utilizavam sua composição.
Em 1872, a cidade já contava com os bondes importados dos Estados Unidos, mas sem luz elétrica, a região continuava no isolamento. Dessa época, fica o registro dos bondes puxados por tração animal. Somente em 1908, a antiga fornecedora Light passou a fornecer luz elétrica na região. A iluminação a gás nas ruas começou a ser substituída, a partir de 1916 e só veio a desaparecer completamente na década de 30.
Santana é bairro referência da Zona Norte em serviços, comércio e transportes
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As constantes enchentes foram minimizadas com a canalização do Rio Tietê, realizada no início do século 20. A construção da Ponte das Bandeiras em 1942, ao lado da antiga ponte de madeira, foi o primeiro grande passo para promover a maior integração de Santana com o centro da cidade.
Com o crescimento da região, a Ponte das Bandeiras logo chegou à sua saturação. O transporte público também era insuficiente, uma vez que só existia a linha de ferro que seguia até a Cantareira e Guarulhos.
A construção de mais uma ponte para atender a região foi uma iniciativa do então prefeito Prestes Maia que apresentou o projeto da, atualmente denominada Ponte Cruzeiro do Sul-Jornalista Ary Silva. Porém, esse foi um projeto que enfrentou muitos entraves para ser efetivado. Entre eles estão a necessidade de alargamento de ruas a desativação do Trenzinho da Cantareira, desapropriação de imóveis e falta de recursos financeiros.
Como vereador líder do prefeito Prestes Maia na Câmara Municipal, Ary Silva (fundador de A Gazeta da Zona Norte), atuou como grande defensor da construção da Ponte Cruzeiro do Sul, até sua inauguração em 25 de janeiro de 1967. Na qualidade de Patrono da obra, Ary Silva teve como homenagem seu nome incluído na denominação da referida ponte através da Lei nº 15.161 sancionada em 17/05/ 2010.
Na década de 60, Santana passou por outra grande transformação que viria dar condições para a chegada do Metrô, na década de 70. O alargamento da Avenida Cruzeiro do Sul, projeto que exigiu desapropriações, foi fundamental para o desenvolvimento do bairro e a chegada do Metrô em meados dos anos 70. Esse projeto foi realizado com empenho pessoal do então vereador Ary Silva, um de seus projetos mais emblemáticos em prol da Zona Norte. Muitos dos moradores mais antigos ainda lembram de seu trabalho junto a população local, indo pessoalmente falar com os proprietários dos imóveis desapropriados a respeito da importância dessa iniciativa, para toda a coletividade.
Finalmente em 1974 com a inauguração do Metrô, a distância entre Santana ao centro da cidade foi finalmente minimizada, em poucos minutos de viagem. Esse fato foi determinante para o primeiro “boom” imobiliário da região, na década de 80. Desde então, os edifícios de médio e alto padrão, foram gradualmente transformando o bairro.
Apesar de tantos pontos positivos, Santana convive até hoje com os impactos do crescimento urbano. Suas vias principais sofrem com excesso de veículos, muitas linhas de ônibus e muitas vias fundamentais, que permaneceram estreitas apesar de sua importância para o fluxo do bairro. A Avenida Cruzeiro do Sul chegou a ter um projeto para ser prolongada até a Avenida Eng. Caetano Álvares, mas devido à sua complexidade nunca saiu do papel.
Para o futuro, novas transformações são esperadas, principalmente pelo futuro da região do Anhembi e da área do Campo de Marte. Mesmo com tantas mudanças, Santana manteve muitas áreas residenciais, apesar de sua intensa atividade econômica. Empreendimentos de médio e alto padrão, tanto residenciais, quanto comerciais continuam chegando à região que, apesar de sua estrutura viária com amplas avenidas, ainda tem grandes áreas com ruas antigas que não comportam tamanha movimentação. Esse é um desafio para o futuro da região, que tende a crescer mas, precisa preservar a qualidade de vida de sua população.
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